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 Como Escrever Diálogos

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Isabel
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MensagemAssunto: Como Escrever Diálogos   Como Escrever Diálogos Icon_minitimeSeg Jun 28, 2010 4:38 pm

Citação :
Procure prestar atenção como as pessoas conversam na vida real. Elas falam em sentenças curtas, cortam umas as outras e executam ações enquanto falam. Para que seu diálogo seja autêntico, você precisa usar estes mesmos artifícios. Só tome cuidado para que não fique chato, pois muitas vezes, nossas conversas cotidianas são chatas. Os diálogos devem sempre fazer a história progredir e trazer algum nível de tensão ou conflito. Evite "jogar conversa fora", com coisas do tipo:

- Oi, tudo bem?
- Tudo bem. E você?
- Lindo dia não?
- Lindo mesmo.
...

Não abuse dos dialetos e gírias. Usar apenas algumas palavras no meio das falas é suficiente para indicar ao leitor que aquele personagem fala de uma determinada maneira. Se o personagem usar uma linguagem incomum, que possa deixar o leitor confuso quanto ao siginificado de uma palavra, você pode usar o outro personagem para esclarecer. Exemplo:

- Te abanquetas aí homem, - disse o Gaúcho.
- Te abanquetas? Que diabo é isso? - Perguntou o Carioca.
- é pra sentar, tchê!

Controle a velocidade e a entonação dos diálogos com a pontuação. Se, por exemplo, uma pessoa fizer uma pausa um tanto longa para "pensar" antes de continuar uma frase, use três pontos para mostrar esta pausa no texto. Quando alguém for interrompido no meio da frase, use um traço horizontal para demonstrar isso.

Cada personagem deve ter sua personalidade e isso deve ser refletido na forma de falar. Evite que dois personagens conversando pareçam ser a mesma pessoa. Use o perfil dos personagens, seu nível de educação, a regionalidade, a idade, o humor e outros fatores que influenciam na forma como falamos. Veja um diálogo entre Kremer e Guilherme extraído do meu livro Teia Negra:

- Bom, senhores, a situação é a seguinte, - disse Kremer, enquanto pegava uma folha de papel em branco que estava sobre a mesa e começava a desenhar. - Aqui fica o prédio da Greenwood e nosso homem está no oitavo andar. Precisamos tirá-lo de lá, o mais rápido possível.
- Mas o quê que esse cará tá fazendo lá, meu camarada? - perguntou Guilherme.
- Infelizmente, não posso dizer. Faz parte de uma missão que está em andamento, - disse Kremer, colocando um cigarro na boca, mas sem acendê-lo.
- Porra, Kremer, você sabe que se descobrem que eu tô agindo extra-oficialmente numa parada dessa, vai dar a maior palavrão.
- Não se preocupe, ninguém vai ficar sabendo. Vai ser jogo rápido e limpo.
- Tá certo. Só tô aqui porque você é meu amigo. Sabe disso.
- Bom, vamos ter-.
- Ah! Antes que eu esqueça, - gritou Guilherme, - vai ter que pagar uma cerveja pros amigos aqui.
- Tá bom Guilherme, mas será que dá pra você calar essa boca e prestar atenção na porra do plano? O cara tá lá no ninho da cobras, cacete.
- Tá, tá, desculpa. Manda ver.

Você deve ter percebido que Kremer é mais centrado, mais "elegante" ao falar do que Guilherme, embora não deixe de lado algumas expressões que o coloca no mesmo "ambiente" que o amigo. Já Guilherme é totalmente "esculhambado". Você também deve ter percebido que o tom da voz de Guilherme é mais alto, mesmo antes que o marcador "gritou Guilherme" aparecesse no texto.

Peça uma outra pessoa para ler os diálogos pra você em voz alta. Se você conseguir que duas pessoas façam isso, uma para cada personagem, será ainda melhor. Elas devem usar as entonações de acordo com as dicas que você deixou no texto. Se ao ouvir o diálogo você não sentir que está como você esperava, refine e peça para que leiam novamente. Repita o processo até conseguir o resultado que deseja.

Não coloque muito texto com pensamentos ou ações no meio de um diálogo. Lembre-se que a conversa deve fluir naturalmente, para que o leitor possa acompanhá-la. Imagine se no meio de uma briga de marido e mulher, você começar a descrever o objeto que está em cima da lareira. Isso irá quebrar o ritmo do diálogo e o leitor perderá o interesse.

Leia o trecho abaixo com atenção:

- Ela estava doida para ir para o apartamento logo, - disse eu, enquanto estávamos sentados na escada olhando ela passar no corredor.
Ricardo apontou diretamente para ela, - é aquela?
- A própria.
- Tem certeza? - Disse ele. Eu concordei com a cabeça. - Não pode ser!
- Gostosa, não?
...

O que não está claro no diálogo acima? Consegue perceber? Bom, na verdade existe um problema na linha "- Tem certeza? - Disse ele. Eu concordei com a cabeça. - Não pode ser!". Fica difícil identificar quem está com a palavra. Posso assumir que quem disse " - Não pode ser!" foi o personagem que está narrando em primeira pessoa, mas na verdade quem disse isso foi o "Ricardo". Esta confusão foi criada por existir uma ação de um personagem ("Eu concordei com a cabeça.") no meio da fala do outro. Pode até ser que o leitor consiga interpretar o texto corretamente e não se perca, mas se errar, todo o diálogo ficará confuso. O trabalho do autor é evitar que isso ocorra e eliminar todas as possíveis armadilhas. Veja agora o texto corrigido e tire suas próprias conclusões:

- Ela estava doida para ir para o apartamento logo, - disse eu, enquanto estávamos sentados na escada olhando ela passar no corredor.
Ricardo apontou diretamente para ela, - é aquela?
- A própria.
- Tem certeza? - Disse ele.
Eu concordei com a cabeça.
- Não pode ser! - Disse ele, deixando a boca aberta por mais tempo que o necessário.
- Gostosa, não?
...

Procure usar marcadores no diálogo sempre que possa existir alguma dúvida de quem está falando o quê. Usar "ele disse" ou "ela disse", sem muito exagero, não polui o texto e o leitor nem nota a presença desses marcadores "invisíveis". Leia alguns diálogos de autores famosos e repare que eles não usam muitas variações nos marcadores, exceto em casos em que realmente é necessário demonstrar uma alteração de tom de voz. Não use, por exemplo, "ele falou" em uma linha, "ele exclamou" em outra e na outra "ele disse". Mesmo nos casos onde seja necessário mostrar a variação de volume na voz, você pode utilizar outros recursos mais elegantes do que simplesmente marcar com "ele gritou":

- Vá para dentro, agora! - Gritou Carlos.
- Não, - disse Glória, com lágrimas nos olhos.
- Droga de menina teimosa! - Esbravejou Carlos.


Agora veja o mesmo texto sem os marcadores e diga qual versão ficou mais interessante:

- Vá para dentro, agora! - Carlos estava com os punhos cerrados e chamando a atenção de toda a vizinhança.
- Não, - disse Glória, com lágrimas nos olhos.
- Droga de menina teimosa! - disse ele, com o rosto vermelho como pimenta.

Julio Rocha
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